22 de outubro de 2010

A honra no Esporte

Ultimamente não estou com muitas ideias para postagem, pensei vários dias sobre o que escrever aqui e não encontrei um tema legal ou palavras para algum tema pensado.


Decidi colocar aqui uma história também postada no blog http://globoesporte.globo.com/platb/joaopedrini/ por João Alberto Pedrini.


O texto descreve o que se passou com atletas ucranianos durante o domínio do exército de Hitler na Segunda Guerra Mundial e mostra o valor dado ao esporte pelos atletas de Kiev perseguidos pelos nazistas, segue abaixo, espero que gostem:




“FC Start: A honra acima da vida…
No ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, o exército nazista invadiu a cidade de Kiev, na Ucrânia, em uma das maiores rendições em massa da história da humanidade, cerce de 665 mil soldados soviéticos se renderam aos nazistas. Durante os meses seguintes, chegaram à cidade milhares de presos de guerra, que não tinham permissão para trabalhar e para viver em casas, milhares de pessoas viviam a esmo.
Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazistas não perseguiam, caminhando pelas ruas da cidade, surpreendeu-se ao encontrar o gigante Nikolai Trusevich, que antes da Guerra era goleiro do Dínamo de Kiev, na época talvez o melhor time da Europa. Sem que os soldados soubesses, Kordik “contratou” seu maior ídolo para trabalhar em sua padaria.
Após um tempo, o padeiro fez ao goleiro uma proposta, continuaria pagando seus vencimentos, mas em troca o arqueiro tinha que resgatar seus amigos de Dínamo, para montarem uma equipe de futebol, que disputaria uma liga realizada, basicamente, por times de soldados nazistas. Os nazistas realizavam campeonatos de futebol entre sí, mas poucas equipes locais tinham coragem e condições de enfrentá-los.
O arqueiro percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, seus amigos de Dinamo. Kordik deu trabalho a todos, se esforçando para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv, e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre seus empregados uma equipe completa.
Voltar a jogar era, além de escapar dos nazistas, a única coisa que bem sabiam fazer. Muitos tinham perdido suas famílias nas mãos do exército de Hitler, e o futebol era a última sombra mantida de suas vidas anteriores. Como o Dinamo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipe, assim nasceu o FC Start, que através de contatos alemães começou a desafiar as equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich.Em sete de junho de 1942, jogaram sua primeira partida, apesar de não terem o que comer e estarem exaustos pelos trabalhos exaustivos, venceram por 7 a 2. Jogo a jogo o Start foi se afirmando sobre os nazistas e foi conquistando a torcida local, os nazistas até aumentaram o preço dos ingressos para que a torcida diminuísse.
No dia 6 de agosto, convencidos de sua superioridade, os alemães prepararam uma equipe com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era um time utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Os nazistas tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém dos nazistas. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de esportividade dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.
Após essa escandalosa queda do time de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. De Berlim veio a ordem de que todos os jogadores deveriam ser mortos, inclusive o padeiro, porém, os soldados nazistas não se deram por satisfeitos e queriam realizar uma partida contra o Start para derrotá-los, e para que não morressem com a imagem de vitoriosos.A superioridade da raça ariana, em particular no esporte, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar o time em um jogo.A revanche foi marcada para 9 de agosto, no estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo que se o Start vencesse o jogo todos morreriam. Antes da partida, os nazistas avisaram os jogadores que eles deveriam realizar a saudação nazista, porém enquanto os alemães gritavam “Heil Hitler!”, os ucranianos gritavam “Fizculthura!” com a mão no peito, uma expressão soviética que proclamava a cultura física.
O primeiro gol foi marcado pelos alemães, porém no intervalo o Start já vencia por 2×1. No intervalo os jogadores foram ameaçados com armas para que entregassem o jogo, mas os atletas pensaram em suas famílias, nos crimes que foram cometidos, nos 36 mil que nas arquibancadas gritavam desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar. O placar final foi de 5×3 e quase no término da partida, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão, deu-lhe um drible deixando-o estatelado no chão, e ao ficar em frente à trave, quando todos esperavam o gol, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo.
Depois dessa última partida, a Gestapo visitou a padaria, o primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o arqueiro Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em novembro de 1943. O resto da equipe foi torturada até a morte.
Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dinamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se atualmente um monumento que saúda e recorda àqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.