26 de julho de 2013

Um sonho realizado, uma pessoa mudada - Final

Finalizando...

    Entramos no ônibus da agência de turismo (acho que nosso primeiro ônibus nesse estilo, mas o preço valia) e seguimos em uma viagem rápida para a cidade de Copacabana - que dá o nome à Praia carioca, devido à grande semelhança entre o formato de costa das duas -, cerca de 5 horas. É, rápida comparada às outras viagens que já tínhamos feito ao longo da trip. Tivemos que descer do ônibus para um pequeno trajeto de balsa (no caso dos automóveis) e lancha (pedestres), para passarmos por um canal. No local de parada, novamente nos deparamos com sinais do inconformismo boliviano em relação à perda de seu território litorâneo para o Chile (clique nas imagens para poder ler as frases que caracterizam bem isto):


   Chegamos em Copacabana no início da tarde, e logo em seguida iniciamos a pesquisa de hospedagem, até nos instalarmos em um hostel simples e aconchegante, custando 25 bols por dia (desculpe, não me recordo o nome). Até que tínhamos um bom dinheiro para ficar na cidade por alguns dias, mas não poderíamos passar de três dias, já que eu tinha sido intimado pela família a estar em Pontal antes do dia 25 de fevereiro, meu aniversário. Pelos cálculos do tempo da viagem de volta, decidimos que ficaríamos três dias em Copacabana. Portanto, não tínhamos muito tempo para ficar parados, visto que é uma cidade linda, com muitos lugares interessantes a se conhecer. Decidimos então subir o morro em que se localizava o Mirante do Sagrado Coração de Jesus, a 3934 metros de altitude. E na subida, mesmo parando para fotografias, novamente a altitude e o seu ar rarefeito pegaram eu e o Lucas. Um cansaço absurdo! Graças a Deus existiam argentinos (nunca achei que fosse falar isso) lá em cima, com garrafas de água em mãos, que nos ofereceram para aliviar os problemas. Cheguei quase engatinhando! haha Mas em compensação, o estado de êxtase que ficamos, ao ver a imensidão de beleza do Lago Titicaca, compensou cada gota de suor. Simplesmente um lugar divino, sem palavras, daqueles que têm uma energia especial, algo que te emociona e te toca de um jeito que poucos lugares fazem. Instintivamente, segui para um canto, sentei-me no chão à sombra de um pinheiro e decidi só observar e absorver (salve, Eduardo Marinho!). O Lucas seguiu para outro canto, sem trocarmos palavras, só seguindo o coração. Fiquei ali, estático, sentindo aquela brisa bater e vendo a harmonia entre lago, céu e sol. Nesse momento, lembrei-me de todos os dias que passei planejando a viagem, de toda a contestação que enfrentei em casa e todos os argumentos que usei pra convencê-los de que isso tudo era realmente essencial pra mim, do choro da minha vó ao despedir-se do, até então, inexperiente mochileiro, das várias horas de viagem, dos perrengues, do cansaço, do frio, das incríveis pessoas que conheci, das alegrias, dos momentos eternos... é, ali era Deus dizendo pra mim que tudo isso tinha valido à pena, que minha busca pelo pôr do sol tinha chegado ao fim, mesmo não sendo em Lima, mas sendo num local totalmente místico, especial. Era um momento só meu, de profunda emoção, de profunda realização. 

Paz.
   Ao me dar conta de que não vivi tudo isso sozinho, resolvi procurar o Lucas e encontrei-o no topo do morro, sobre um rochedo, em paz, tocando o seu charango (instrumento típico boliviano), que havia comprado na cidade anterior. Toda vez que ouço aquela música - http://www.youtube.com/watch?v=32Js2Ef5Ojg -, aquele sentimento bom me volta à cabeça. Me sentei para compartilhar toda aquela alegria e algumas boas horas de conversa e reflexões se passaram, até o sol começar a se esconder. Já estava anoitecendo, o Lucas resolveu ficar um pouco mais por lá e eu voltei para o hostel, para comer algo e ver a estreia do Palmeiras na Libertadores da América (vício é vício haha). 

"A parceria faz o sangue e o sangue faz o irmão."

    Após acabar o jogo, tomarmos banho e jantarmos, decidimos conhecer a noite de Copacabana, muito bem comentada por quem já havia ido. Não tínhamos um local definido para ir, mas ao passarmos por um bar com bilhar e karaokê não foi preciso nem perguntar se o outro aceitava a ideia. Peguei algumas fichas e uma cerveja (Paceña gelada, dessa vez) e fomos jogar umas partidas, ao mesmo tempo que conversamos com o dono do bar. Ao saber que éramos brasileiros, decidiu fazer uma pequena homenagem, certo de que ia nos agradar: colocou para tocar músicas do Michel Teló e do Bonde do Tigrão, tudo o que eu queria ouvir. Felizmente o mundo estava do nosso lado: um apagão na cidade, nada de música. Assim, o Lucas pegou emprestado o violão do dono e eu umas velas, para iluminar a mesa e eu continuar a jogar enquanto ouvia o Lucas tocar. Aí sim ouviu-se música boa! Depois de esperarmos a luz voltar e ela não dar qualquer tipo de sinal, fomos embora do local, dormir. 

Si, truta!
    Na manhã seguinte, que já não era manhã, acordei com fome, decidido a comer o prato típico do local: truta. O Lucas não quis me acompanhar, então fui obrigado (coitadinho) a comer uma truta na manteiga sozinho, que não era servida em um prato, e sim, em uma pequena travessa. Divina! Os caras realmente mandam bem nesse prato! Havíamos combinado de ir para a Isla del Sol e Isla de la Luna na parte da tarde, porém os dois já não tinham a mesma disposição do início do mochilão e passaram o resto do dia dando sinal de vida para a família na internet, conhecendo um pouco mais da cidade e passeando à beira do Titicaca (com outro pôr do sol incrível). Na parte da noite retornamos ao bar da noite anterior e jogamos um pouco mais de bilhar, dessa vez sem ser interrompidos pela linda (ironia) homenagem do dono e/ou por algum apagão. De lá, fomos a um outro bar, um pouco mais movimentado, mas quase fechando. Só deu tempo de provar a outra cerveja boliviana - Huari, produzida em Oruro -, conversar um pouco com umas chilenas simpáticas e pagar a conta. Na manhã seguinte, arrumamos nossas coisas, compramos a passagem de retorno para La Paz e embarcamos. Era hora de dar adeus àquela maravilha. Mas fica até hoje o desejo de voltar, conhecer mais e aproveitar mais. Vale muito à pena! 

Até breve, Titicaca!
    Em La paz, assim que chegamos já tratamos de comprar as passagens para Santa Cruz de La Sierra. Pagamos 130 bolivianos pela Transportes El Dorado. Nesse ônibus, conhecemos e conversamos muito tempo com duas pessoas muito legais: a Marianella, dançarina argentina, e a Larissa, advogada carioca. Foi uma viagem longa, com paradas demoradas, e que fizeram a Larissa ter que sair do ônibus na última parada, para não perder seu vôo de Santa Cruz para o Brasil. Chegando em Santa Cruz, novamente fomos em busca da passagem para o próximo destino, e então compramos com a Empresa El Quijarreño por 35 bolivianos. Nos despedimos da nossa amiga argentina, compramos algumas salteñas para a viagem e seguimos. Uma viagem cansativa, mas uma das que mais me recordo e que mais me alegrou. Enquanto todos os outros passageiros dormiam, durante a noite, eu o Lucas conversávamos sobre toda a viagem e cantávamos músicas que vinham na cabeça, sendo ainda brindados por um céu muito, mas muito estrelado. A música que fica dessa parte do mochilão é: http://www.youtube.com/watch?v=W1ARYwDxHhk. Chegando em Puerto Quijarro, resolvemos fazer o caminho até a fronteira a pé, já que tínhamos ficado muito tempo sentados em vários ônibus. Era início da manhã e lá víamos nosso último nascer do sol boliviano.

Choro fake, na despedida da Bolívia.

    Chegando na fronteira Bolívia - Brasil, novamente muita fila e toda aquela confusão: muitos bolivianos, estrangeiros e brasileiros querendo ir para o Brasil. Não sei porquê, mas lá há uma porta para os bolivianos fazerem sua regularização e outra para os brasileiros e demais estrangeiros. Nessa grande fila conhecemos a Johana, uma psicóloga de Lima - Peru. Como é muito burocrático, confuso e demorado todo esse sistema da fronteira Quijarro - Corumbá, ficamos muito tempo conversando com a Johana e nos demos muito bem com ela (ps: ela que falou sobre o cevice verdadeiro, como citado no post anterior). Após sairmos daquele caos, conversamos sobre nossos países e indicamos vários lugares interessantes para ela conhecer no Brasil., já que iria pegar um ônibus para São Paulo e depois seguir para outras cidades brasileiras. Dali, nós dois decidimos pedir carona para chegar até Campo Grande, já que o dinheiro não era muito e o vontade de fazer mais uma aventura era grande. Depois de algumas tentativas, conseguimos um transporte de curta distância com duas universitárias que passavam de carro por ali. Não foi muito, mas qualquer ajuda é muito bem vinda. 
    Após desembarcar do carro, andamos muito para chegar até a saída da cidade e nesse caminho conhecemos um cara incrível, que caiu do céu. Não sabemos o nome dele e nenhuma informação, mas passamos em seu mercado e perguntamos se podíamos encher as garrafas com água, ele prontamente aceitou e ainda nos deu outra com água gelada. Saímos, agradecidos, do mercado e quilômetros de caminhada após, o mesmo nos encontrou propositalmente de carro e, sem falar nada, só expressando bons sentimentos, nos deu uma sacola com lanches. Uma mistura de alegria, gratidão e surpresa nos tomou conta. Uma bondade daquela é algo inimaginável, hoje em dia, que me serve de lição e referência até hoje. Após este fato, agora revigorados, caminhamos vários quilômetros até chegar na saída da cidade, onde queríamos hacer dedo para chegar a Campo Grande. Ficamos no local até o fim da tarde, e não conseguimos nada. Frustrados, decidimos ir para a rodoviária de Corumbá e comprar passagens para Campo Grande, já que não podíamos mais correr o risco de perder outro dia (meus pais me matariam se eu passasse o aniversário na estrada e descumprisse a promessa). Como só haviam passagens para o dia seguinte, compramo-as (78 reais) juntamente com alguns salgados da lanchonete e nos preparamos pra dormir por lá. Estava muito quente e o chão gelado da rodoviária caía como uma luva. Lembro-me que não consegui nem terminar de ver o Jornal Nacional e apaguei, perante ao cansaço de um dia inteiro de caminhada e tentativa de carona. Logo que acordamos já entramos no ônibus e seguimos para a capital sulmatrogrossense, parando somente uma vez, pela Polícia Federal, que revistou todos os passageiros e prendeu uma moça do nosso lado, com cocaína da fronteira. Chegando em Campo Grande, o Lucas ligou para seus tios que residiam na cidade e pegamos um táxi para visitá-los. Ficamos pouco tempo com eles, mas já deu para ele matar a saudade e contar-los das novidades da viagem. Eles nos levaram para a rodoviária e lá compramos as passagens com a Eucatur (170 reais) para Curitiba. Confesso que essa foi a viagem mais demorada e entediante da viagem, visto que já conhecíamos o trajeto, estávamos cansados, com saudade da família e dos amigos. Chegando em Curitiba o tempo de espera foi menor ainda: compramos os bilhetes para o embarque seguinte e às 17:20 do dia 20/02 pegávamos nosso último ônibus do mochilão, com direção a Pontal do Sul. 
Chegava ao fim a maior aventura que fiz na vida, com uma das pessoas mais incríveis que conheci, ao lado. 

   Agora, no momento em que escrevo, soma-se a saudade e nostalgia de tudo isso, a tristeza por ter acabado de descrever esse vinte e tantos dias, mas principalmente o prazer e satisfação de ter compartilhado todos esses fatos e a minha alegria aqui com vocês. "A felicidade só é real quando compartilhada." (Into the Wild)
Realizei muitos sonhos, tive muitas alegrias e situações que nunca vão se apagar da minha cabeça. Também passei por dificuldades e alguns problemas, pequenos diante de tudo isso. Mas tenho absoluta certeza que o Bryan de antes da viagem nem se compara com o Bryan pós-viagem. Mudei, cresci. Espero que não tenha somente crescido, mas espero que após tudo isso eu consiga ajudar também muitas pessoas a crescerem. Plantar a sementinha dentro de vários corações. É com isso que eu sonho.

    Torço para que tenham lido todas as partes, que tenham absorvido algo, que tenha sido útil. Agradeço os comentários, as críticas, as sugestões. Você que está lendo agora me motivou muito a deixar aqui esse relato. Meu agradecimento, de coração.

    Se você quiser tirar dúvidas ou comentar algo, fique à vontade para me adicionar no facebook (se ainda não tem, https://www.facebook.com/bryanrmuller) e ver mais fotos no álbum da viagem, que criei lá.


Obrigado, Deus!


"Você é assim, vai passar o resto da sua vida perseguindo o pôr do sol." (Kon-Tiki)






19 de julho de 2013

Um sonho realizado, uma pessoa mudada - Parte 5

    E finalmente chegamos em La Paz...

Uma das principais avenidas de La Paz
...que na minha cabeça sempre foi a capital boliviana, até descobrir que ela 'apenas' é a capital econômica do país, a que realmente é a capital política é Sucre (viu? ler este blog é aprender Geografia haha). La Paz é conhecida por estar numa espécie de buraco. Você chega a ela através da cidade de El Alto e desce em círculos até chegar na parte mais baixa - La Paz. Durante o caminho, por ônibus, vimos vários outdoors informando obras de manutenção de estradas ou criação de novas, com dizeres mais ou menos assim "Se Evo promete, Evo faz!", juntamente com uma bela foto do presidente boliviano. É o tal do populismo. Contudo, creio que realmente ele esteja fazendo um bom trabalho pela Bolívia, descentralizando o poder (o que está incomodando muito a 'nata' boliviana). 

    Bom, paremos de falar de política e seguimos com a viagem: a rodoviária de La Paz era algo muito grande e caótica, que pretendíamos não ficar por muito tempo. Saímos dela com a intenção de procurar um lugar bom e barato. Enquanto o Lucas pesquisava preço e cardápio em alguns restaurantes e lanchonetes, eu ia para o lado oposto fazer o mesmo. Paramos em um que custava cerca de 9 bolivianos, com pollo como prato principal (não tem como fugir), sopa, PICOLÉ DE SOBREMESA e uma saladinha bem preparada. Simples e gostoso. De barriga cheia, seguimos a procura de um hostel. Após procurarmos alguns, decidimos ficar no que já tinham me indicado antes de sair para a viagem - Hotel Áustria (cerca de 20 bolivianos a diária), um local cuidado por um velhinho muito simpático, que de cara nos reconheceu brasileiros (segundo ele, por nosso sotaque, ao falar espanhol). Achei a melhor hospedagem da viagem, com um ambiente tranquilo, wifi, lavanderia, camas quentes e confortáveis, banheiros com água quente e boa localização. Além de feliz por ter encontrado um lugar legal, feliz também por saber que minha pesquisa antes da viagem tinha sido útil (faça uma! Se quiseres viajar...). 

Hotel Áustria
Descansamos, tomamos um bom banho (na verdade dois, né, cada um uma vez haha) e sentamos para conversar, para organizar a viagem. Depois de um bom tempo pensando e discutindo um roteiro com melhor custo/benefício para a sequência da viagem, decidimos que não iríamos mais para o Peru. Sabíamos que poderíamos estar deixando de aprender muita coisa, conhecer muita coisa, mas nos baseamos no seguinte: ainda tínhamos muito pra conhecer na Bolívia, já não tínhamos muito dinheiro, chegar a Lima seria passar muito tempo e gastar muito dinheiro em viagem, a moeda peruana é muito mais cara que a boliviana, etc. Marcamos como destino final de viagem o Lago Titicaca, se ficássemos sem grana lá pelo menos estaríamos mais próximos de casa do que se estivéssemos no Peru. Questão de sobrevivência. Com essa decisão, outra conclusão: já que estávamos preparados pra gastar muito no Peru e não iríamos mais, iríamos ter muito mais dinheiro ficando na Bolívia (já que o Nuevo Sol tem praticamente o mesmo valor que o Real, e assim, também 3 vezes mais caro que o Boliviano), e com isso poderemos gastar em coisas que não tínhamos planejado, elevaríamos o padrão de vida do mochilão por alguns dias haha. La Paz também seria melhor conhecida, ficaríamos mais de dois dias, segundo nossas intenções.

Plaza Murillo - principal praça da cidade
    Após a decisão dos novos rumos, saímos para jantar. Nosso objetivo era fugir do pollo. Com nosso mapa, tentamos encontrar o local que fazia fondue suiço. E, surpresaaaaaaa! Estava fechado. Como ele, muitos estabelecimentos, em plena sexta-feira a noite. Explicação? Carnaval. O que nos restou? Pollo! hahaha Jantamos e decidimos voltar para 'casa', pra podermos acordar cedo no outro dia e conhecer a bela La Paz. A decisão meio intuitiva foi a seguinte: ficaríamos 4 dias, sendo que em dois dias sairíamos juntos, pra dar o rolê - um deles a minha rota e no outro a do Lucas. Nos outros dois dias cada um iria por si. Na primeira manhã fomos conhecer a praça central da cidade, logo na quadra ao lado do nosso hotel. Uma praça cheia de pombas, com muitos policiais e membros do exército boliviano. Em torno dela havia a sede de vários poderes da Bolívia, que mereciam proteção. Turistamos um pouco ali e saímos para tomar café da manhã, o desayuno. Fomos a uma cafeteria muito boa e agora, com pouco mais de dinheiro pra gastar, podíamos pedir umas tortas e bolos mais caros. Festa feita! Após, fomos conhecer as ruas estreitas e altas do centro de La Paz e lá, como em Santa Cruz, também havia divisão de ruas para o tipo de comércio, com rua de materiais esportivos, rua de agências de viagem, rua de restaurantes, etc. Nessa volta que demos, fomos a agências que vendiam o pacote da Ruta de La Muerte - um passeio ciclístico que saía da altitude e levava até uma região baixa, em um percurso lindo e perigoso. O Lucas fez o passeio e diz que foi uma das coisas mais incríveis da viagem, recomendado! 

Cores das lojas paceñas
Barraca do Mercado de Las Brujas
    Também fomos conhecer a Mercado de Las Brujas e a Calle Sagárnaga, locais conhecidos da região central da cidade. O Mercado é muito curioso e recebe esse nome pela venda de poções do amor, incensos e até coisas mais exóticas, como feto de lhama e alguns outros animais empalhados. Aproveitamos as várias tendas do Mercado e da Sagárnaga para comprar umas lembranças para os amigos, aproveitando o baixo preço. Todas as tendas e ruas dessa região eram muito movimentadas e também muito bem decoradas, com muita cor (união entre os panos andinos e a decoração carnavalesca). Vale a pena conhecer. Nosso almoço foi em um restaurante em frente ao hotel, o qual tinha uma música muito boa (Lucas ficou fascinado com Hendrix et al tocando). Pedimos cevice de peixe, um prato típico do Peru na Bolívia. Não gostei muito, e na fronteira com o Brasil acabei descobrindo que aquele não era o jeito correto de fazer a receita. Ainda tenho esperanças que seja gostoso :)

    Após dar uma boa volta pela cidade no primeiro dia, eu iria realizar meu desejo em La Paz: conhecer o estádio nacional, casa da Seleção Boliviana de Futebol e dos times locais. Caminhamos bastante até chegar ao bairro Miraflores, onde situava-se o Estádio Hernando Siles. É muito bonito por fora e tem uma praça mais bela ainda em frente. Infelizmente ele estava fechado para o público, por ser feriado nacional, e naquela semana também não haveria jogo pelo Campeonato Boliviano de Futebol. Uma pena. Após isto, fomos conhecer um parque da cidade, que possuía um mirante com visão panorâmica da cidade, um teatro ao ar livre lindo, além de muitas quadras esportivas. Sentamos para ver os bolivianos jogarem futebol nessas quadras, esperando que sobrasse uma vaguinha para brincarmos e conhecermos o poder da altitude. Após muito tempo, um deles se cansou e perguntou se eu queria entrar no lugar dele. Perdão, mas como foi muito especial para mim, será mais detalhado.

Bryan fascinado com o Estádio

    "Yo? Si, si!". E então, ele perguntou, com um tom um pouco debochado, se eu era inglês. Eu disse que não, que era brasileiro. "Noooooooooooo, és brasileño?" Ficou espantado e interessado. Avisou a todos que eu era brasileiro, pra tomarem cuidado (viu como ainda somos respeitados como o país do futebol?). Ali eu me sentia bem, brincando com um pessoal que eu não conhecia, mas me divertindo com o futebol. A altitude realmente pega e eu cansei muito rápido, pois tinha dificuldade de respirar: o ar que era inspirado vinha seco e gelado, fazendo com que eu tossisse logo após. Ou seja, o ar que eu puxava já era solto logo em seguida, pelas tossidas. Consegui aguentar cerca de 15 minutos jogando, muito provavelmente devido aos oferecimentos de água para mim a cada 2 minutos. Mas gostei muito e percebi que realmente a bola é mais leve, corre mais e o chute sai mais forte. Uma experiência única! Quando eu cansei, o Lucas entrou, também jogou e se divertiu. Fomos muito bem tratados! Nosso time ganhou e o pessoal veio nos agradecer por ajudar na vitória. Deram 5 bls para cada, como pagamento. Relutamos em aceitar, pois só queríamos nos divertir, sem grana. Então descobrimos que era uma aposta entre os dois times e que o adversário, derrotado, teve que pagar uma quantia ao nosso time. Como não iríamos aceitar o dinheiro e eles não iriam desistir de oferecer, sugeri que juntássemos o dinheiro de cada um e comprássemos umas cervejas. Ele adoraram a ideia e pediram para acompanhar-los até o local de compra. Durante o caminho eles nos explicaram que eram amigos, de diversas cidades, que se encontravam durante a época de Carnaval para trabalhar ali perto do parque, em ruas cheias de barracas de venda de comidas e diversas coisas. As barracas deles eram semelhantes às de parques de diversões, com a brincadeira da argola, da bola na pilha de latinhas, bola na boca do palhaço, etc. E esses amigos formavam um time - Los Gorilas. Que era conhecido no bairro e vitorioso. Ao longo de algumas cervejas Paceñas quentes (sim, lá é frio, alto e eles estão acostumados a bebe-las quentes. Por incrível que pareça eram gostosas, sem ser amargas. Prontas para esse tipo de consumo) eles nos contaram um pouco de suas vidas, do que achavam do Brasil e do futebol brasileiro. Também lhes contamos um pouco sobre nossa viagem, sobre o quê conhecemos o futebol boliviano e o que fazemos da vida. Uma tarde muito legal, no coração de La Paz, com novos amigos. Eles nos convidaram para jogar um campeonato pelo time, mas explicamos que nossa viagem precisava seguir. Triste por não ter participado, feliz por saber que era por um bom motivo. Mais feliz ainda por ter passado por isso, por não ter apenas turistado na cidade, por ter conhecido de fato os bolivianos, sua cultura e dia-a-dia. Hoy soy un gorila!

Los Gorilas
   Bom, reduzindo um pouco a empolgação, voltemos aos fatos. No dia seguinte o Lucas foi para sua trip ciclística (que não fui, muitos sabem o motivo hahaha) e eu fui conhecer o Mercado Lanza e o Museu da Coca. O Mercado também é muito legal, como o das Brujas. Porém, maior e mais organizado, com 4 andares e sinalização para tudo o que é vendido por lá: livros, flores, carnes, frutas e verduras, refeições... O Museu da Coca também é interessante, se paga 10 bls para entrar e é possível conhecer toda a história da Coca no país e no mundo, desde o seu uso por indígenas, até a transformação em droga sintética, seus efeitos, sua legislação, suas informações e a cultura da coca. Na manhã seguinte, manhã do quarto dia em La Paz, eu e o Lucas começamos a arrumar nossas coisas para viajar para Copacabana, cidade à beira do Lago Titicaca, em sua porção boliviana. Enquanto o Lucas se preparava, parei em frente à TV e vi a notícia: em todas as principais praças de todas as cidades bolivianas, naquele dia, haveria uma homenagem do exército e da polícia aos combatentes da batalha com o Chile. Aquele dia marcava 134 anos da invasão chilena ao litoral boliviano, fazendo com que o país perdesse o acesso ao mar. 
Homenagem militar
Os jornalistas enfatizavam o termo "injusta" a todo o momento, demonstrando a insatisfação dos bolivianos com a situação. Como estávamos muito próximos à praça central de La Paz, o Lucas foi lá fotografar o momento. Com tudo aquilo, concluímos que o povo boliviano ainda é muito sentido em relação a isso, pois não possuem mais litoral. Por considerarem injusta a invasão, parecem estar se organizando para um dia retomar essas terras. Me parece que o Evo já está preparando a população para isso e uma tensão começa a se criar entre os país, se tratando disso.

  Bom, após esta manhã de conhecimento da história da Bolívia, compramos nossa passagem para Copacabana, ali mesmo no Hotel Áustria. Pagamos 20 bolivianos e fomos pegos na porta do estabelecimento, pela agência responsável pela viagem. Os dias em nosso último destino de viagem, a alegria de conhecer o Lago Titicaca e a minha análise dessa viagem estarão no próximo (e último sobre isso) post, aguardem :)

Saída de La Paz em grande estilo